quinta-feira, 14 de maio de 2009

Criando Deus

O que é inerente ao gênero humano, pertencente ao grupo dos primatas,é o respeito à hierarquia. Tudo o que viemos criando desde os primórdios da civilização tem por base o respeito à hierarquia. Isto vem sendo estudado a partir do comportamento dos grandes símios, caso dos gorilas e orangotangos. Eles têm a liberdade de elegerem um soberano e seguem-no fielmente. Fêmeas dão preferência a ele para procriar, existe sempre uma fêmea predileta, existem outras que lhe rendem tributos, assim como ao "soberano" do grupo, que disputa seu título com outros em brigas para provar quem é o mais forte dentre todos..Assim com bases no "seguir as normas hierárquicas", nós humanos criamos nossos representantes na figura de Reis, Patriarcas,Dirigentes, Presidentes... já que temos esse princípio de obediência ao soberano em nossos códigos genéticos. Ao nos estruturarmos em grupos maiores, nós humanos vimos que em certas circunstâncias ficaria difícil eleger um soberano supremo que fosse obedecido fielmente pelas demais tribos sem contestação. Como a superioridade acabou sendo frágil senão em termos absolutos, a idéia de um DEUS soberano foi implantada. Ao abraçarmos a idéia de um Pai criador, um Deus, ou Deuses acabamos com este problema inerente à necessidade humana de ter um superior e temos condições de "eleger" não mais por provas de força física, aqueles que teremos por representantes desse Deus, ou de tudo o que é bom e perfeito (portanto não humano) na Terra.

Ao afirmar-se que o ser humano tem por base a busca pela felicidade, a paz entre os membros, incorre-se no erro de não prestar atenção ao que é marcante no gênero humano: a vontade de ser líder, de comandar, de ter poder sobre os demais membros da sociedade. Aos homens cabem as provas físicas de poder, sejam elas com bases apenas na exteriorização da força bruta( por parte daqueles que tenham dotes físicos para tanto ), até da "força intelectual", que prevalece entre aqueles espécimes humanos não tão bem dotados fisicamente a ponto e vencer brigas, acabando por vencê-las pela inteligência.Uma forma encontrada pelos fracos que querem ser fortes e seguidos,tem sido criar normas e regras que visem fazer a humanidade "irmã" em torno de uma idéia base. Quando essa idéia base é Deus, somos irmão sem Deus e obedecemos as leis criadas pelos homens fracos física ou intelectualmente, em nome desse personagem Deus a fim de "nivelar" as diferenças entre as castas humanas, que todos reconhecem ( propensão genética ) que existem mas passam a não admitir a existência a partir do momento que se consideram "irmãos em uma causa"!

Ao acreditarmos em Deus Pai, Deus Ciência, Homens Deuses, estamos apenas seguindo o plano humano para aceitar as limitações e a própria condição de fraqueza "por não ser forte o suficiente para ser soberano do grupo", ou no caso das mulheres "a fêmea predileta"!Isso é a simplificação da simplificação em termos do que acontece nas sociedades, mas os exemplos são tão claros que me é impossível aceitar tal argumento como não mais do que "a mais cândida verdade"quando falamos da necessidade de termos estruturas de pensamento que visem o "nivelamento" no mundo. Vivemos aquilo que temos em nós, e quê acreditamos, e as sociedades falam disso o tempo todo. Tudo o que pensamos, seja em termos religiosos, políticos, filosóficos apenas validam esta necessidade de elegermos nossos líderes quando não estamos em condições de pleitear tal liderança, ou quando exercemos a liderança sem sermos merecedores dela.Um exemplo típico disso pode ser encontrado nos que criam seitas religiosas ( ou não ) "do nada" e que angariam seguidores apaixonados. Estes criadores de seitas não raro apresentam uma aversão ao gênero humano por simplesmente não fazer parte do "time de frente", por não ser o mais belo, por não ser o mais inteligente, por não poder vencer aos demais em exibições de poder, por ser de uma casta ou raça considerada inferior. Estes "criadores de seita"então, munindo-se de seguidores que considerem inferiores a si mesmos, iniciam movimentos que visem a inversão dos valores que os excluem do poder na sociedade à qual pertençam. Aos seguidores detais homens, acaba havendo a tarefa de enaltecer-lhes as virtudes afim de validar a adoração que rendam a eles, ao que eles pregam.Normalmente os medíocres agrupam-se em seitas deste tipo e não raro chegam ao poder e ao controle de grandes massas humanas. Vide exemplos nas sociedades Fascistas e em regimes onde prevalece o Fundamentalismo Religioso à frente dos representantes políticos.

Num lado oposto, convém destacar, existem aqueles que não têm tanto interesse pelo poder, mas seus feitos pelos demais do grupo são reconhecíveis e admiráveis. Estes são os líderes natos ( alguns tornaram-se pilares das religiões vigentes no mundo), ou simplesmente reis que fizeram seus seguidores alcançarem vitórias memoráveis e que são aclamados e idolatrados. Não raro, esses representantes dignos que são elegidos pela sua capacidade latente e inerente em si mesmos,são mortos e espezinhados por aqueles que se sentem "invadidos" e ameaçados em sua pretensa e inválida ascensão ao poder. Estes medíocres, munindo-se de conceitos medíocres que lhes validem as ações medíocres, matam e trucidam todos aqueles que lhes ponham à mostra a própria inferioridade "escondida" dos olhos dos demais pelas regrinhas criadas e pelas "verdades" que criam. Os que os seguem e professam suas regras são da mesma categoria.Assim eu não considero válido o argumento de emprestar ao ser humano virtudes tais que o façam "buscar ideais de beleza e felicidade" para todos. Antes, todos buscamos o poder, seja através de nossos próprios feitos, seja através daqueles ou daquilo em que acreditamos que nos façam alcançar tal poderio. Os exemplos disso podem ser encontrados até em listas de discussão. Há exemplos inclusive no que se considera "submundo das drogas". Em seus cartéis, estes que vivem à margem da sociedade, criam seus próprios líderes e seus representantes. O Deus nesse caso passa a ser o Dinheiro, sendo a riqueza uma das formas mais convincentes de demonstração de poder...como já diziam, quem não tem cão, caça com lagartixa e cada um busca para si as crenças que validem sua ânsia de "ser o bom, o tal, o maioral". Os meios pelos quais alcançam esse "status" varia conforme o que cria os grupos.

Vale matar, vale roubar, vale destruir, excluir, traficar, burlar...tudo o que é errado faz parte da vida humana, mais do que todas as virtudes enumeráveis. Isso porque as virtudes e sua aceitação, são apenas consequências diretas da necessidade de "acalmarem-se os ânimos" daqueles que se considerem inaptos a pleitear o poder por si mesmos. O que vale, no final das contas é combater. Quem não se sente forte para lutar por si mesmo, apela para conceitos que validem sua inferioridade em bases aceitáveis e isso é tudo.Visão tenebrosa essa, mas é apenas um retrato realista da verdadeira condição humana. Pode-se ver algo de bom nisso tudo, afinal sobrevivemos... mas isso devemos a quem criou o conceito de Deus,desde lá nos primórdios... só assim pudemos sobreviver e chegar até os dias de hoje "ilesos de nós mesmos". Não que isto valide a idéia da existência de um Deus soberano. Antes, valida a idéia de que devemos a nossa sobrevivência frente os nossos instintos de destruição e auto-aniquilamento, pela prática da Fé em um ente supremo e seu séquito que permitiu que NÃO nos matássemos uns aos outros de forma mais "acintosa".Até que para primos de Gorilas fizemos bonito...

Lígia Amorese,
maio 2002

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