segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Evolucionismo x Criacionismo

Introito:

No princípio, tudo era simples: Deus havia criado os céus e a terra... plantas para ornamentar sua criação, animais para povoá-la, o ser humano feito à sua imagem e semelhança para reinar sobre toda a obra deixada a partir de então à mercê de seus caprichos... porém, um detalhe pôs tudo a perder nos perfeitos planos divinos. Sua obra máxima, o cetro e a coroa de sua criação resolveram insurgir-se contra suas ordens... e eis que Ele teve de expulsá-los do paraíso perfeito, abortados de Seus planos de felicidade eterna e vida harmoniosa, pois comeram do único fruto proibido: o fruto do bem e do mal. A partir disso, Homem e Mulher aprenderam a duvidar e a questionar, aprenderam que teriam que lutar pelo seu sustento, pela sua felicidade... aprenderam que teriam que aprender como o mundo funciona...

Muita gente pode ler essas linhas acima e pensar que eu estou de brincadeira com o que está nas escrituras do velho testamento bíblico. Na verdade não é uma brincadeira, apenas uma tentativa de introdução. Estórias como esta que são contadas em cursos de catecismo, que são lidas em voz alta pelos pastores em seus púlpitos diante de uma platéia aturdida, têm um certo papel a cumprir. Vêm ao encontro do desejo humano de conhecer suas origens e entender o que está fazendo vivo num mundo que parece não ter sido feito para ele... e foi assim, com a "assinatura divina", que tais escrituras chegaram até nós trazidas de milênios atrás através dos tempos para que de certa forma, nossas dúvidas fossem sanadas sem que continuássemos incorrendo no erro daqueles que são tidos por nossos pais bíblicos, a imagem e semelhança de Deus, Homem e Mulher que pecaram por não obedecerem, lançando sua descendência neste vale de lágrimas... Seria assim que a história de nossa espécie estaria sendo contada até hoje caso não tivéssemos dado um basta ao conhecimento imposto e buscado respostas por nós mesmos...

Não é difícil dar início a um questionamento ininterrupto. Basta, para tanto, que a primeira pergunta leve a mais perguntas e estas, ao serem respondidas, gerem mais dúvidas que certezas e consequentemente mais perguntas. Durante algum tempo que se estendeu por séculos, nossa civilização ocidental acatou cegamente aquilo que lhe foi ensinado por aqueles cuja finalidade era espargir o conhecimento adquirido através do que se denominava "inspiração divina". Acredita-se que a bíblia inteira tenha sido escrita sob tal inspiração, daí sua importância durante o longo tempo em que as idéias eram dogmas e, consequentemente inquestionáveis, empurradas goela abaixo daqueles que se aventurassem a buscar compreender alguma coisa. Porém, ainda que certos de incorrerem em "pecado", alguns expoentes humanos resolveram não mais acatar o que lhes era imposto como verdade absoluta e deram início ao questionamento de sua própria natureza, não mais com base no que está escrito... mas com base no que seus olhos atentos e um real interesse em compreender ditava. Desta feita e em meio ao conhecimento cristalizado fornecido pela Igreja com base nas escrituras, que se deu início a uma grande e revolucionária jornada rumo ao desconhecido, com o firme propósito de desvendá-lo, perscrutá-lo e conhecê-lo na medida em que dispositivos de observação para auxiliar a análise foram sendo desenvolvidos. Estava dada a largada ao questionamento ininterrupto, gerador de dúvidas à espera de respostas, propulsor do que viria a ser conhecido por Ciência.

Foi assim, ao munirmo-nos da Ciência, que o princípio, o início idealizado pelos supostos detentores das informações recebidas diretamente de Deus foi revisto, questionado e até certo ponto desmentido, não sem antes ser rechaçado pelos que crêem que não há verdade fora da Igreja... uma celeuma geradora de frutos que, à maneira do que está escrito, também expulsa o Homem de seu lugar privilegiado lançado-o no roldão dos seres criados, não à imagem e semelhança de um Deus, mas de acordo com as possibilidades de um mundo, que se descobriu estar em constante evolução. Mais uma vez o ser humano vê-se abortado dos planos divinos e lançado ao mar das intempéries, nu, desparamentado de sua realeza em relação aos demais seres vivos e à mercê da incerteza. Porém, antes de sentir-se órfão e desprovido de recursos para administrar o porvir, resolveu encarar o novo mundo povoado de animais extintos que o precederam no cortejo da vida e, através do estudo de tais seres, vem buscando a sua própria origem em meio aos escombros do passado.

E é assim que nossa história da criação com bases científicas e sem dogmatismo vem pouco a pouco sendo escrita. Dados os avanços científicos, podemos hoje aventurarmo-nos na tentativa de reescrever o que está escrito. Mas ao contrário da Gênese Bíblica esta estória ainda não tem fim... e:

No final, nem tudo será tão simples. Por certo não houve uma criação de céus e terras num princípio mas a partir de um evento de proporções cataclísmicas a estender-se até hoje, audível na radiação fóssil de fundo, cujo resultado é o universo visível composto por milhões de galáxias. Nosso mundo em seu nascimento em nada se parecia com o que vemos hoje, era quente, formado a partir dos restos da formação de nosso Sol orbitando à revelia, sendo amalgamado a partir das colisões de pedaços grandes e pequenos dessa matéria ensandecida. No correr de milhões de anos foi-se esfriando na superfície, dando origem a um árido e infernal cenário, sucedido por um período em que do acúmulo de gases, fez-se a chuva a cair ininterruptamente por milhares de anos. Vez por outra mais pedaços dos escombros da formação planetária chegaram a colidir com este mundo em formação, alimentando-o com mais matéria prima. Foi assim que no correr de muito mais tempo, em algum local apto a servir de berço que a vida surgiu... e o mundo, nunca mais foi o mesmo....

Lígia Amorese

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